Quais são os principais métodos para detectar a mastite bovina no rebanho?

Despender uma energia extra para identificar corretamente a mastite – que continua sendo a principal doença nos rebanhos leiteiros e a que mais “pesa no bolso” do produtor – poupará futuros esforços para tratá-la e monitorá-la

Quais são os principais métodos para detectar a mastite bovina no rebanho?

Por: Raquel Maria Cury Rodrigues, Zootecnista pela Unesp de Botucatu

Maria Clara Navarro, Médica Veterinária pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e Analista de Suporte na OnFarm

Para qualquer tratamento proposto – seja para prevenção ou para uma doença já instalada – é imprescindível uma correta detecção. Isso ocorre também com nós humanos: imagina sermos diagnosticados com uma enfermidade de maneira equivocada?

Provavelmente o período que estávamos no médico, na farmácia e realizando exames foi desperdiçado, talvez façamos menos ou mais repouso do que o necessário, enfim, quando o norte para a solução não é preciso, sempre estaremos perdendo algo, como tempo, capital e outros recursos. 

Na fazenda, não é diferente! Despender uma energia extra para identificar corretamente a mastite – que continua sendo a principal doença nos rebanhos leiteiros e a que mais “pesa no bolso” do produtor – poupará futuros esforços para tratá-la e monitorá-la. É um passo que ajuda a simplificar, clarear e direcionar as ideias para as próximas ações.

A “exibida” mastite clínica

 Alterações visíveis no leite e nos tetos ou em ambos é característica do perfil de mastite clínica. Nesses casos, também podem ocorrer sintomas sistêmicos na vaca como: febre, prostração, desidratação, diminuição do consumo e queda na produção leiteira.

Nos casos leves e moderados os sinais já podem ser visíveis na glândula mamária, que passa a apresentar em alguns casos inchaço e vermelhidão. No leite, presença de grumos, mudança de coloração, pus e sangue.

Seu diagnóstico pode ser feito no momento da ordenha por meio do teste da caneca, que consiste na retirada dos três primeiros jatos de leite visando a identificação de alterações. Além disso, pode ser feito o exame físico do úbere para identificar se há presença de dor e endurecimento do quarto afetado apalpando o mesmo. Para quem trabalha no dia a dia com os animais, muitas vezes essas alterações são facilmente notadas já que a doença pode alterar o comportamento do animal (além das questões físicas mencionadas acima).

Mastite subclínica: mesmo não vista à olho nu, ela pode estar presente

Em contrapartida, a mastite subclínica se caracteriza por não implicar em alterações visíveis, seja no leite ou nos próprios quartos mamários. Mesmo não dando sinais aparentes, o leite perde em qualidade quando a vaca está acometida pela doença pois a sua composição é alterada: há redução nos níveis de caseína, lactose e gordura (importantes para a produção de derivados lácteos); aumento dos teores de cloro, sódio, proteínas do soro e na Contagem de Células Somáticas (CCS).

O diagnóstico da mastite subclínica pode ser realizado pelo monitoramento da queda da produção de leite juntamente à utilização de testes auxiliares, sendo os principais: a Contagem de Células Somáticas (CCS), o California Mastitis Test (CMT), a condutividade elétrica e a cultura microbiológica do leite.

O emprego rotineiro da CCS indica a mastite subclínica e também é utilizada como critério de pagamento pela qualidade do leite. Para os produtores, a CCS pode ser usada como ferramenta de gestão e monitoramento e tem cada vez mais espaço dentro da fazenda leiteira. Ela está diretamente relacionada com oportunidades de redução de perdas de produção e maior remuneração do leite.

Vacas sadias apresentam CCS inferior a 200.000 células/ml, portanto animais com valor superior a esse já são considerados positivos. Atualmente, grande parte dos laticínios coletam amostras de leite do tanque de expansão e mensuram a CCS periodicamente para fins de atendimento da legislação e bonificação.

A CCS do tanque é capaz de representar a estimativa média individual das vacas, porém subestima a real prevalência de mastites subclínicas no rebanho influenciada pela CCS e produção individuais. Portanto, o ideal para um controle mais assertivo seria a realização mensal da CCS de cada um dos animais para a identificação da prevalência de mastite subclínica no rebanho.

CMT e condutividade elétrica

O CMT é caracterizado pela agilidade no resultado e facilidade no manuseio. Para o teste, é utilizada uma raquete específica com quatro compartimentos correspondentes ao leite de cada um dos quartos mamários da vaca. 

As principais indicações para o uso do CMT são para selecionar os quartos mamários com CCS alta, diagnosticar mastite subclínica em vacas recém-paridas (5-7 dias de lactação) e para o monitoramento mensal da doença em casos de impossibilidade de realização da CCS individual.

No leite coletado (2ml) é aplicado um reagente (detergente aniônico neutro, também 2ml) e por meio de movimentos circulares com a raquete, a fim de misturá-los, se observa a formação ou não de um gel. O segredo é analisar – por meio de escores (negativo, traços, +, ++ ou +++), a viscosidade do gel quando ele surge. Os escores do CMT possuem uma boa correlação com a CCS do leite como pode ser conferido abaixo:

ECS: escore de célula somática

Em vacas com mastite ocorre um aumento na concentração dos íons de sódio e uma diminuição na concentração do potássio e cloro no leite, alterando a condutividade elétrica. É por isso que esse também passou a ser um recurso para a detecção de mastite subclínica. Em um animal saudável a condutividade elétrica pode variar entre 4 a 5,5 mS/cm a 25°C e o aumento deste índice é proporcional ao aumento da CCS.

Outros fatores como temperatura do leite, estágio de lactação, porcentagem de gordura, intervalo entre ordenhas, agente causador de mastite e raça podem também influenciar os valores. Atualmente esse método é frequentemente utilizado nos próprios equipamentos de ordenha por meio de sensores e programas de computador, o que faz com que cada vaca seja avaliada automaticamente.

O uso da cultura microbiológica é indicado para os dois tipos de mastite

A cultura microbiológica na fazenda é uma ferramenta possível de ser utilizada tanto em casos de mastite clínica como subclínica.

Vantagens para o controle da mastite clínica

Qual é o seu principal diferencial nos casos de mastite clínica? Além de uma tomada de decisão mais rápida (já que a identificação do (s) microrganismo (s) ocorre entre 18 a 24 horas após os casos clínicos de mastite, possibilita o uso racional de antibióticos já que o tratamento é direcionado para cada animal, inclusive, em cerca de 40% deles, nem é necessária a antibioticoterapia.

Com isso, o resultado é a redução nos custos, no descarte de leite com resíduos de antibióticos e no risco de resistência antimicrobiana por patógenos causadores de mastite. Conhecendo o perfil dos patógenos na fazenda, é determinado onde está o maior problema: no ambiente? No manejo? Ou equipamentos?

E as vantagens para o controle da mastite subclínica?

Na mastite subclínica, a cultura ajuda o produtor a agir em cima dos motivos pelos quais a doença está presente no rebanho, atuando também como uma ação preventiva. Uma outra rotina extremamente importante para ser incrementada na fazenda seria a realização de cultura microbiológica nos animais que aumentaram a Contagem de Células Somáticas (CCS) ou que apresentaram resultado positivo no teste de CMT, para sabermos o que há de errado com esse animal e podermos agir diretamente na base do problema.

Voltando ao que ressaltamos no início desse texto, independente do método escolhido, um correto diagnóstico de mastite é vital para as fazendas leiteiras. Então, mãos à obra!

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