Após apresentarem reação em setembro, os preços do leite no campo voltaram a registrar tendência de queda em outubro. De acordo com a pesquisa do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço pago ao produtor em outubro, referente ao leite captado em setembro, foi de R$ 1,3635/litro na “Média Brasil” líquida, ligeira queda de 0,68% em relação ao mês anterior, mas forte recuo de 7,6% em relação à de outubro/18, em termos reais (valores foram deflacionados pelo IPCA de setembro/19).

De um modo geral, os preços do leite pagos ao produtor apresentam tendência sazonal de queda a partir de setembro, devido ao aumento da produção no Sul do País e ao retorno das chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste. No entanto, em 2019, o movimento do mercado está atípico para o período, tendo em vista a lenta retomada da produção nesta primavera – que se deve, em parte, ao atraso das chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste, e às incertezas dos produtores em realizar investimentos de médio e longo prazos.

De agosto para setembro, o Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) registrou alta de 2,9%, sendo que a expectativa, no início daquele mês, era de que essa variação fosse substancialmente maior. Por conta disso, os preços do leite spot (negociado entre indústrias) caíram e as indústrias cederam à pressão de atacadistas para reduzir as cotações dos derivados lácteos. Em Minas Gerais, o preço do leite spot caiu 6,3% de agosto para setembro, chegando a R$ 1,4433/l. O UHT e a muçarela negociados no atacado paulista se desvalorizaram 2,41% e 3,59%, respectivamente.

Mesmo com a queda nos preços de derivados e do spot em setembro, os laticínios não conseguiram impor quedas intensas no campo, por conta da competição por matéria-prima, já que os estoques estiveram justos em setembro. É importante lembrar que os preços do leite no campo são influenciados pelos mercados de derivados e spot, com certo atraso de um mês nesse repasse de tendência. Dessa forma, os preços de novembro (captação do mês anterior) irão depender das negociações de spot e derivados de outubro.

Em outubro, o mercado de leite spot registrou alta de 1,7% em Minas Gerais, chegando a R$ 1,4306/litro. Já o leite UHT comercializado no atacado paulista registrou muita oscilação nas negociações de outubro, com queda de 0,75% no acumulado do mês, chegando a média de R$ 2,39/litro – recuo de 3,5% em relação ao preço médio de setembro. Agentes consultados pelo Cepea relataram dificuldades em negociar com atacadistas, que estão pressionando por cotações mais baixas para atrair consumidores.

Por outro lado, o queijo muçarela negociado no atacado paulista registrou alta acumulada de 4,56% em outubro, registrando média de R$ 17,10/kg, alta de 0,9% em relação à média de setembro. Os estoques da muçarela estiveram mais enxutos durante o mês (o que corrobora, inclusive, a perspectiva dos agentes de que a oferta de leite no campo seguiu controlada em outubro). Apenas nesta última semana do mês, colaboradores relataram que os estoques começaram a se elevar, em virtude do aumento da captação.

Levando-se em conta o retorno das chuvas em outubro, é possível que a captação seja favorecida e os preços de novembro caiam – mas a intensidade da queda vai depender, justamente, da capacidade de crescimento da produção.

 

Cepea manterá a divulgação dos preços brutos e líquidos em 2020

Cumprindo sua missão de gerar conhecimento para apoiar decisões estratégicas que contribuam para o desenvolvimento da agropecuária brasileira, o Cepea atendeu aos pedidos do setor lácteo e continuará calculando os preços brutos do leite ao produtor em 2020.

O Cepea pretendia divulgar apenas os preços ao produtor líquidos, sem frete e impostos, a partir de janeiro de 2020, a fim de facilitar a comparação e análise das informações.

No entanto, cooperativas e indústrias de laticínios reiteraram que o cálculo do preço bruto é importante justamente para evidenciar a disparidade dos preços líquidos entre regiões, por conta da grande heterogeneidade nas condições de frete no Brasil. Assim, a captação em determinadas regiões é mais custosa que outras, o que influencia a formação do preço no campo. Desse modo, a informação do frete, embutida no preço bruto, é estratégica e necessária para as negociações com produtores. Nesse sentido, o Cepea manterá a divulgação dos preços brutos e líquidos, como o faz desde 2005.

De acordo com Natália Grigol, pesquisadora da Equipe Leite, “o episódio reforça a importância do Cepea para o setor lácteo. E também relembra que o compromisso do Cepea, firmado com a sociedade desde quando iniciou os estudos da cadeia do leite, em 1986, é de trabalhar com transparência, neutralidade e de portas abertas para aqueles que quiserem construir com essa instituição informações úteis”.

 

 

Co-autoria: Juliana Santos, pesquisador do Cepea
Considera os preços do leite recebido por produtores sem frete e impostos dos estados: BA, GO, MG, SP, PR, SC e RS.

 


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