Micotoxina Zearalenona, o inimigo do programa reprodutivo de vacas

A zearalenona (ZEN) pode afetar a reprodução e causar abortos espontâneos, o que resulta em enormes perdas econômicas para os produtores de leite

 
 
 
 
 

Micotoxina Zearalenona, o inimigo do programa reprodutivo de vacas

Por Ignacio Artavia, Gerente de Produto da Biomin

Quando nos referimos à presença de micotoxinas em explorações leiteiras, é comum focar nas perdas diretas de produção e no estado de saúde dos animais. As preocupações são diferentes para a zearalenona (ZEN): uma vez que possui estrutura muito semelhante à do estrogênio, a ZEN pode se aderir aos receptores presentes em diferentes partes do organismo, como o útero, a glândula mamária, o hipotálamo e a glândula pituitária, causando atrasos na reprodução, abortos espontâneos e outros problemas reprodutivos.

Funções do estrogênio na reprodução – Antes de discutir o impacto da ZEN, é importante compreender como o estrogênio atua no organismo de uma vaca. Durante o ciclo do estro, a concentração de estrogênio se mantém estável e baixa até o cio (estro), quando aumenta abruptamente. O estrogênio prepara o aparelho reprodutor para a reprodução, além de afetar o comportamento das vacas e estimular o acasalamento. Um estro normal dura um dia (mais ou menos) e, uma vez finalizado, a concentração de estrogênio é reduzida novamente [Figura 1, adaptado de Senger (2003)].

Figura 1. Flutuações hormonais durante o ciclo do estro.

 

Figura 2. Degradação in vivo da zearalenona em vacas leiteiras fistuladas no rúmen (Gruber-Dorninger et al., manuscrito apresentado).


Degradação da ZEN no rúmen – Quando a ZEN é ingerida e atinge o rúmen, pode haver uma espécie de transformação da molécula. Em comparação aos suínos ou aves, os ruminantes são considerados mais resistentes às micotoxinas, uma vez que se supõe que a microbiota ruminal atua como uma primeira linha de defesa contra as toxinas. No entanto, no caso da ZEN essa metabolização não resulta em detoxificação. As duas principais moléculas resultantes desse processo metabólico são o α-zearalenol (α-ZEL) e o β-zearalenol (β-ZEL), que podem ser 60 e 0,2 vezes mais estrogênicas, respectivamente. Embora a maior parte da ZEA permaneça inalterada, a maior parcela do que é degradado se converte em α-ZEL (Figura 1, Gruber-Dorninger, manuscrito apresentado) e a estrogenicidade aumenta. Portanto, pode-se dizer que se o alimento estiver contaminado a passagem pelo rúmen faz com que a ZEN continue sendo ou se torne ainda mais estrogênica, porém não menos nociva.

Experiência de contaminação com ZEN em uma fazenda leiteira – Este caso recente aconteceu em uma granja atendida pelo Dr. Marios Christoforou, na República do Chipre.


Tamanho do rebanho: 170 vacas Holandesas em lactação

 

Durante o inverno, sintomas começaram a ser observados em algumas vacas, entre eles:

 

  • Ninfomania (inclusive em vacas prenhas)
  • Ausência de resposta ao tratamento hormonal para reprodução
  • Inflamação da vulva

 

O Dr. Christoforou realizou os controles de prenhez aos 30 dias após a inseminação por meio de um teste embrionário, além de controle adicional com ultrassom. Ele constatou que um número considerável de vacas havia abortado e elas apresentavam cistos ovarianos (>20 mm de diâmetro). Além disso, destacou que é raro observar cistos ovarianos durante o inverno no Chipre, uma vez que esses tendem a ser afetados pelo estresse por calor. Ele começou a suspeitar de contaminação por ZEN e, por isso, seguiu os seguintes passos:

 

  1. Consultou um nutricionista: Eles discutiram a situação com o produtor e determinaram que a aparição dos sintomas tinha ocorrido próximo do momento em que se começou a fornecer um novo lote de palha de cevada aos animais. O nutricionista também suspeitou da ZEN e o material foi enviado ao laboratório para análise.

 

  1. Analisou o alimento: As amostras foram analisadas usando Spectrum Top®50, um método de LC-MS/MS, e observou-se que a palha de cevada estava contaminada com 1.380 ppb de ZEN. Essa palha era fornecida em dose de 5 kg/animal/dia.

 

Nesse caso, especificamente, o problema era mais grave devido à concentração de ZEN no alimento, porém em alguns casos os efeitos, embora menos dramáticos, podem ter impacto na reprodução das vacas.

 

Efeitos estrogênicos da ZEN em vacas – Quando a ZEN se adere aos receptores de estrogênio presentes nos diferentes tecidos, ocorre um transtorno endócrino. É por essa razão que pode ocorrer comportamento típico de cio, mesmo se a vaca não estiver em estro (por exemplo, em vacas prenhes). A seguir, estão alguns dos mais importantes efeitos negativos da ZEN:

 

  • Dificuldade para detectar o cio: A maioria das maneiras típicas de detectar o cio está relacionada ao comportamento das vacas. A exposição à ZEN pode alterar o comportamento, fazendo com que as vacas pareçam estar em estro, mesmo não estando. Isso se conhece como falso cio ou falso estro. A detecção imprecisa do cio resulta na ineficácia da inseminação e em maior número de dias abertos.

 

  • Desequilíbrios hormonais: Os hormônios reprodutivos são produzidos ou não, reagindo à resposta de outros hormônios. Quando a ZEN circula no sangue e se adere aos receptores de estrogênio presentes nas diferentes partes, a produção e a concentração de outros hormônios presentes no sangue são alteradas (Fushimi et al., 2014, 2015; Mahmoud et al., 2013). Esse efeito é denominado transtorno endócrino.

 

  • Cistos ovarianos: O transtorno endócrino pode resultar na presença de cistos ovarianos. Durante a exposição à ZEN, mais folículos são recrutados. No entanto, um único folículo se desenvolve para a ovulação. Esse acúmulo de folículos pouco desenvolvidos pode levar à formação de cistos ovarianos, em contaminações relativamente baixas (por exemplo, 200 ppb) (Mahmoud et al., 2013). O atraso reprodutivo constitui o principal problema observado, além do tratamento veterinário necessário para restabelecer o equilíbrio.

 

  • Abortos: A exposição à ZEN pode causar alterações na concentração de progesterona. A progesterona é conhecida também como o “hormônio da prenhez” porque uma vez que um óvulo tenha sido fertilizado com sucesso o hormônio garante que sejam criadas as condições fisiológicas da vaca para preservar o embrião. A possível alteração desse conjunto de condições pode resultar em abortos espontâneos, especialmente no primeiro terço da prenhez, como reportado por Kallela e Ettala (1984) e Weaver et al. (1986).

 

  • Aumento do tamanho do úbere em novilhas: Dado que o estrogênio promove o desenvolvimento do úbere, a exposição de novilhas jovens à ZEN pode induzir desenvolvimento prematuro da glândula mamária. Isso se associa a futuros problemas de ordenha e infecções mamárias, e pode ser motivo para a retirada do animal do rebanho (Bloomquist et al., 1982; Coppock et al., 1990).

 

Impacto econômico – Qualquer tipo de atraso na reprodução de vacas leiteiras constitui grande preocupação econômica. De acordo com diferentes autores (De Vries, 2006; Eicker e Fetrow, 2003; Hovingh, 2009), o custo do aborto espontâneo em uma vaca pode atingir US$ 550-1.200 e cada dia aberto adicional representa custo de US$ 5,20-6,00 (Cabrera, 2014). Além disso, os problemas reprodutivos estão entre as principais razões pelas quais as vacas são substituídas. Uma vaca que requer mais tempo para emprenhar tem possibilidade 75% maior de ser descartada (Cabrera, 2014).

Considerando o aspecto econômico da reprodução de vacas, a ZEN pode afetar negativamente uma exploração leiteira se não for tratada adequadamente. É necessária estratégia de desativação específica para essa micotoxina a fim de garantir equilíbrio hormonal adequado e reprodução bem-sucedida.

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