Leite UHT eleva preço pago ao produtor

A concorrência no campo segue acirrada, influenciada pela forte demanda por parte das indústrias de derivados lácteos. No mercado atacadista do estado de São Paulo, os preços continuam registrando altas diárias, inclusive, recordes na série histórica, impulsionadas pela baixa oferta da matéria-prima, segundo o Cepea-Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq-USP.

A cotação média de junho do leite UHT fechou em R$ 3,6476/ litro, valor 24,1% superior ao de maio e acumulando valorização de 58,5% apenas este ano, em valores reais (deflacionados pelo IPCA de maio/16). Já o queijo mussarela registrou média de R$ 18,31/kg, valorizando 14,08% em relação ao mês anterior e acumulando alta de 29,8% nos últimos seis meses.

A baixa oferta de matéria-prima tem sido ocasionada pelo período de entressafra e pelos altos patamares dos custos de produção, valorizando ainda mais a precificação do leite. Em junho, o movimento de alta foi verificado em todos os estados acompanhados pelo Cepea. O preço do leite recebido pelo produtor (sem frete e impostos) teve alta de 5,14% de maio a junho, passando para R$ 1,2165/litro na “média Brasil”. Este va-lor está 18,01% maior que o de junho de 2015, em termos reais.

O preço bruto médio (com frete em impostos) foi de R$ 1,3276/litro, aumento real de 17,96% frente ao mesmo período do ano passado.

O aumento na média nacional em junho foi influenciado pela elevação principalmente em Santa Catarina (5,94%) e em Minas Gerais (5,77%), onde os preços líquidos passaram para R$ 1,2474/ litro e R$ 1,2636/litro, respectivamente. Dentro da porteira, as principais dificuldades continuam sendo o clima desfavorável para as pastagens e os custos elevados da alimentação animal, e mesmo com as quedas nos indicadores dos últimos dias os patamares ainda permanecem altos.

O Índice de Captação de Leite do Cepea teve queda de 1,63% em maio, considerando-se os sete estados que compõem a “média Brasil”. A Bahia registrou a maior queda na captação, de 6,87%, seguida de Goiás (-3,37%), Minas Gerais (-2,62%), São Paulo (-2,09%), Santa Catarina (-0,80%) e Paraná (-0,30%). Rio Grande do Sul foi o único estado que registrou ligeira melhora na captação, de 0,73%. Para os próximos meses, a captação deverá começar a se recuperar no Sul, devido às forragens de inverno e também pelo período de safra que começa um pouco antes nessa região.

Diante disso, segundo agentes de mercado, a baixa oferta da matéria-prima se intensificou nesse último mês e, com isso, a concorrência para captação por parte das indústrias de derivados lácteos deve continuar impulsionando os preços. Dos agentes entrevistados pelo Cepea, 97% (que representam 99,5% do volume amostrado) acreditam em nova alta nos preços do leite, enquanto o restante (2,2%, que representam 0,5% do volume) acredita em estabilidade nas cotações – frente ao mês passado. Houve diminuição no número de colaboradores que estima estabilidade nos valores. Nenhum dos colaboradores consultados estima queda de preços em julho. O levantamento de preços pago ao produtor do Cepea é mensal e conta com o apoio financeiro da OCB-Organização das Cooperativas Brasileiras.

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Aumento dos custos de produção
O analista de mercado, Rafael Ribeiro, da Scot Consultoria, também aponta que houve aumento nos custos de produção da atividade leiteira em junho. “Os alimentos concentrados proteicos e energéticos puxaram os custos para cima”, diz. Segundo o índice de sua consultoria, a alta foi de 2,7% no mês passado em relação a maio deste ano.

“Em relação a junho de 2015, os custos de produção subiram 28,4%”, informa, projetando que tal tendência pode ser freada com o início da colheita da segunda safra de milho, a qual deverá diminuir, em parte, a pressão de alta sobre os preços do grão e, por consequência, dos custos da atividade leiteira. “Somado a isso, as quedas no dólar podem amenizar os aumentos dos insumos importados”, cita.

Os primeiros sinais dessa possibilidade foram dados em maio, quando, pela primeira vez desde outubro de 2015, os preços dos concentrados recuaram 0,7%, segundo estudo do Cepea. Tal grupo de alimentos é composto principalmente de milho e farelo de soja e costuma representar cerca de 45% dos custos da atividade. O maior recuo aconteceu no Rio Grande do Sul, onde a baixa chegou a 2,6% a dois meses atrás.

Sem absorver ainda esse impacto, os preços do leite no mercado spot continuam em alta. Valter Galan, analista do Milk-point Mercado, diz que a cotação média no segmento, em junho, aumentou R$ 0,40 frente ao mesmo mês de 2015, fechando em R$ 1,89 o litro há duas semanas. “Um dos principais motivos para isso é a queda na oferta de leite, cerca de 6 a 7% de janeiro a maio deste ano em relação ao mesmo período do ano passado”, diz.

Complementando, observa que as importações não estão compensando o volume que está sendo perdido com o recuo da produção. No plano do consumidor, Galan destaca que a oferta e o consumo de leite UHT têm se sustentado, apesar da crise econômica vivida pelo País. “O consumidor deixou de comprar queijo, iogurte, mas não leite”, avalia. Segundo ele, o valor médio do litro de leite longa vida no atacado em junho era de R$ 3,31, uma alta de 56% sobre o preço de janeiro deste ano.

Observa ainda que os aumentos registrados no atacado não estão se refletindo no varejo. “Enquanto de janeiro a maio, o longa vida subiu 36,6% no atacado, no varejo, a alta foi de 19,7%. São duas as razões para este cenário. As redes de varejo costumam usar o leite longa vida como item para atrair o consumidor, o que explicaria o repasse menor. Outra razão: pode haver o receio de que um repasse maior leve a uma retração da demanda”, descreve.

Crescem importações e exportações
Segundo dados do MDIC-Ministério de Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior, as importações brasileiras de lácteos tiveram novo aumento em maio. “O volume totalizou 25,78 mil t no mês. Em comparação com o embarcado em abril deste ano, a alta foi de 21,7%. Para os gastos, o aumento no período foi de 16,5%, totalizando US$ 62,43 milhões”, informa Rafael Ribeiro.

O produto mais importado foi o leite em pó. O País importou 19,45 mil t, num total de US$ 46,38 milhões no mês de maio. Os maiores fornecedores de produtos lácteos, em valor, foram Uruguai, com 66,7%; Argentina, com 22,5%, e Chile, com 4,7%. Comparando-se com igual período do ano passado, a importação aumentou 60,6% em valor e 119,4% em volume.

O mesmo MDIC informa também que as exportações de lácteos cresceram em maio, com o País exportando US$ 10,46 milhões. Em relação ao mês anterior, o faturamento aumentou 123,7%. O volume embarcado também teve aumento: passou de 2,53 mil t em abril passado para 3,20 mil t em maio. O produto mais exportado foi o leite em pó, que somou 2,52 mil toneladas e US$8,53 milhões em faturamento.

Os principais compradores dos produtos lácteos brasileiros, em valor, foram: Venezuela (62,4%): Arábia Saudita (6,4%), e Emirados Árabes Unidos (5,7%). “Frente ao mesmo período de 2015, tanto volume como faturamento reduziram 11,9% e 15,5%, respectivamente”, informa Juliana Pila, analista da Scot Consultoria.

Sobre o mercado internacional de lácteos, ela informa que o mês passado transcorreu sem grandes alterações. “No leilão da plataforma Global Dairy Trade (GDT), realizado no dia 15 de junho, os produtos lácteos terminaram cotados, em média, em US$ 2,34 mil por t. Em relação ao evento anterior, houve ligeira alta de 0,4% nos preços. Já na comparação com o mesmo período de 2015, o preço médio caiu 2,9%”, cita.

No caso do leite em pó, a cotação média ficou em US$ 2,12 mil por t, queda de 4,0% frente ao leilão da primeira quinzena do mês. Em relação a junho do ano passado, o leite em pó está custando 9% menos. Foram vendidas 23,09 mil t de produtos lácteos neste leilão, volume 4% abaixo do mesmo período de 2015. Segundo Juliana Pila, o mercado ainda não mostra sinais de recuperação nos preços dos lácteos.


Colaboraram nesta seção: Wagner Hiroshi (Cepea/Esalq USP), Rafael Ribeiro (Scot Consultoria) e Valter Galan (Milkpoint).

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