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(Matéria publicada na Revista Balde Branco, edição 651, de março de 2019)

 

Pecuaristas confirmam todas as vantagens de investir em animais de elevado padrão genético

Tânia Polgrimas

Nunca é demais ressaltar a importância do melhoramento genético nos rebanhos leiteiros. Uma prática que promove a atividade a um patamar mais elevado, com ganhos em produtividade, desempenho animal, qualidade e rentabilidade. Sobretudo, numa época em que o mercado mais e mais exige profissionalismo dos produtores de leite. Essa é a senha para sobrevivência e evolução na atividade. Claro que há diversos outros fatores fundamentais para as boas práticas na produção leiteira, mas o melhoramento genético está na base para atingir a eficiência. Nesta matéria, a Balde Branco foca nos avanços no aprimoramento genético da raça Girolando, bons exemplos e a visão de alguns especialistas.

Roberta: “Além de atender ao mercado brasileiro com genética Girolando, também vamos começar a exportar”

A Fazenda Floresta, de Lins-SP, é exemplo de um trabalho rigoroso com o foco no melhoramento genético do rebanho, ao longo dos anos. E hoje é uma referência no segmento como difusora da genética Gir e Girolando, confirmando que essa raça leiteira rústica e adaptada ao clima tropical segue em franca expansão. Pertencente à Roberta Bertin, a fazenda se especializou no fornecimento de embriões obtidos por meio de fertilização in vitro (FIV) para criadores de todo o País. Atualmente, relata Roberta, 40% da renda da propriedade vêm da venda de genética, e 60%, do leite. “Todos os animais nascidos na propriedade são provenientes de FIV, técnica reprodutiva feita em laboratório próprio, a partir de mães doadoras e pais provados”, informa a pecuarista.

Com um rebanho de 450 vacas Girolando meio-sangue em lactação, a produção diária alcança 10 mil litros de leite, com a excelente média de 22,2 litros por vaca/dia, provando o competente caminho trilhado pela Fazenda Floresta no melhoramento genético do Girolando. “A Floresta se especializou em vender genética Girolando para todo o País e em breve também vamos exportar”, informa a produtora. Para garantir a contínua melhoria dos embriões produzidos no laboratório, ela conta que, do rebanho total de 2,4 mil animais, 200 são de matrizes Gir PO. Além disso, a fazenda conta também com 1,75 mil novilhas Girolando meio-sangue (Gir e Holandês).

A Fazenda Floresta sempre trabalhou com seleção genética, primeiramente, com o Nelore, por 25 anos, e depois, a partir de 2007, com o gado leiteiro, sendo as primeiras aquisições de matrizes Gir PO. “Desde então, selecionamos e formamos doadoras para reproduzir a melhor genética para seus descendentes, produzindo o próprio Gir PO e o Girolando”, diz Roberta Bertin. “Todos são feitos com FIV em laboratório próprio, construído em 1998. Aqui na Floresta, alcançamos o índice de 65% de prenhez em novilhas com 60 dias de gestação”, orgulha-se.

 

Fazenda Bacuri – Outro exemplo interessante é a história da propriedade leiteira da família de Carlos Eduardo Munhoz de Almeida, que não difere muito de tantas outras pelo País que decidiram investir em melhoramento genético do rebanho – aliado, logicamente, a outras boas práticas de gestão, nutrição e manejo. E prova, mais uma vez, que investir em animais de melhor padrão dá retorno garantido.

“Carlim”, como é conhecido, conta que a Fazenda Bacuri, em Orindiúva, região de São José do Rio Preto-SP, produzia, há pouco menos de 20 anos, a média de apenas 4 litros de leite por animal, em ordenha manual, uma vez ao dia. “Tínhamos 50 vacas para tirar 200 litros de leite por dia”, lembra o pecuarista, que toca a fazenda junto com seu pai, Carlos Alberto Luiz de Almeida. Hoje, o criador precisa de apenas oito vacas leiteiras, todas, da raça Girolando, para lhe dar exatamente a mesma quantidade de leite. O rebanho conta com 140 vacas em lactação, das quais tira diariamente 3.500 litros de leite, ou 25 litros por animal/dia.

Não tem segredo. O nome disso é melhoramento genético. Ao longo desse período, Carlim foi se interessando pelo assunto, se formou médico veterinário e decidiu investir no aumento de produtividade da Bacuri. Começou descartando, aos poucos, os animais “pé-duro”, melhorando pasto e manejo e inseminando a vacada com o sêmen de touros provados. “Até 2011, a gente usava só inseminação. Aos poucos fomos passando para a fertilização in vitro (FIV) e transferência de embriões”, conta o criador. Hoje, Carlim diz que o rebanho alcançou um grau de melhoramento que lhe permite aspirar os embriões das próprias vacas da fazenda, sem necessidade de trazer material genético de fora, a não ser o sêmen de touros, que é proveniente de centrais de inseminação que trabalham com animais provados.

Em produção, estão vacas Girolando meio-sangue (Gir com Holandês), três quartos e cinco oitavos. “Atualmente, a maioria do rebanho em lactação tem a mistura cinco oitavos, que é o que recomenda a Associação Brasileira dos Criadores de Girolando para manter o padrão da raça”, conta. “Mas minha ideia é conseguir ter um terço de cada mistura no plantel.”

“Costumo falar pra quem nos visita que uma propriedade leiteira depende de três fatores fundamentais para dar certo: alimentação adequada para cada fase (bezerra, novilha, pré e pós-parto), manejo (que inclui como lidar com os animais até a nutrição) e genética”, ensina Carlim. “Esses três itens têm que caminhar juntos.”

Marcos Vinicius: “O produtor está a cada dia mais ciente de que a profissionalização de sua atividade passa pelo melhoramento genético”

Aparentemente, cada vez mais produtores pensam da mesma maneira que Carlim quanto à necessidade de melhorar geneticamente o rebanho, confirma o pesquisador da Embrapa Gado de Leite na área de genômica, informática e melhoramento animal, Marcos Vinicius Barbosa da Silva, que também é coordenador técnico do Programa de Melhoramento Genético do Girolando. “O melhoramento genético está a pleno vapor no Brasil”, comemora o pesquisador. “De 2008 para cá, o ganho produtivo da raça foi acentuado e o número de touros provados aumenta ano a ano”, diz. “Um ponto importante é que a confiança no trabalho de melhoramento genético do Girolando é tão alta que esta foi a principal raça no País a ter o sêmen exportado.”

De fato, conforme relatório divulgado em fevereiro pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), em 2018, o País vendeu para o exterior 418.988 doses de sêmen, alta de 22,5%. Conforme o presidente da associação, Sergio Saud, as raças leiteiras foram as mais demandadas, com liderança do Girolando. “A procura por Girolando é cada vez maior e não tenho dúvidas de que, futuramente, as exportações de sêmen da raça vão superar até a demanda interna”, diz. Já as vendas internas de sêmen leiteiro (de todas as raças – Holandês, Girolando, Jersey e Gir Leiteiro) avançaram cerca de 3,5% em 2018 ante 2017.

“O produtor está mais consciente quanto ao melhoramento genético”, reafirma o pesquisador da Embrapa. “Ainda há muito que melhorar, mas tem sido bastante difundido o conhecimento sobre como fazer seleção, sobre quais animais devem ser utilizados como touros e quais as vacas que devem permanecer no rebanho ou ser usadas como mães de touros”, diz o pesquisador.

Barcelos Jr. Nota que o controle leiteiro, ainda pouco praticado, é fundamental para selecionar os melhores animais da fazenda

O técnico associado da Associação do Girolando, Nilton Cezar Barcelos Júnior, confirma a expansão desse melhoramento e lembra que, como se trata de um gado sintético, fruto do cruzamento entre o Gir e o Holandês, o melhoramento genético dessas raças tem contribuído muito para o avanço do Girolando. “Temos de destacar também a melhora significativa dos touros Girolando, que antes eram tratados com preconceito. Agora faz parte da rotina das fazendas a utilização desses touros na inseminação artificial”, diz o técnico da associação.

Uma importante ferramenta de melhoramento para a raça, conta Barcelos Jr., é o pré-teste e o teste de progênie, que a associação realiza por meio do Programa de Melhoramento Genético do Girolando (PMGG). “Ele tem avaliado e selecionado o que há de melhor no cenário nacional entre um alto número de touros, resultando em confiabilidade quanto ao trabalho realizado.” Além desses testes, Barcelos Jr. recomenda que é essencial o criador fazer controle leiteiro para selecionar quais animais são superiores dentro do rebanho. “Este, aliás, ainda é um gargalo no melhoramento: baixo número de dados coletados, principalmente pela quantidade ainda limitada de rebanhos avaliados oficialmente no controle leiteiro”, conta.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_empty_space height=”50″][vc_column_text]

No Rio, um programa aprovado pelo criador

O Rio Genética, efetivado no Estado do Rio de Janeiro entre 2009 e 2013, obteve ampla aprovação dos produtores de leite participantes, conforme a tese de mestrado “Caracterização e avaliação do grau de satisfação dos beneficiários do Programa Rio Genética como política pública de fomento à atividade leiteira no Estado do Rio de Janeiro”, apresentada em 2016 pelo zootecnista Paulo Henrique Moraes, da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento do Estado.

Paulo Henrique Moraes: “A raça Girolando é ideal para as condições climáticas do Estado do Rio”

Entre os pilares do programa estava a venda de animais leiteiros melhorados aos produtores participantes, com linhas de crédito de baixo custo, relata o zootecnista Moraes. “Matrizes da raça Girolando e touros das raças Gir e Guzerá provenientes de criatórios dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo eram oferecidos em feiras de animais a crédito a juros baixos”, diz o autor da tese. “Embora o programa não tenha levantado posteriormente o quanto de fato a iniciativa pública melhorou não só o padrão genético do rebanho dos criadores, mas principalmente sua produtividade, minha pesquisa comprovou que a grande maioria dos criadores se mostrou satisfeita com o Rio Genética”, diz. Moraes comenta ser natural que o ingresso de um animal de melhor padrão na propriedade leiteira incentive o pecuarista a adotar um manejo mais cuidadoso com todo o rebanho. “É como se ele adquirisse um carro zero-quilômetro. Começa a cuidar melhor do carro, a pôr gasolina de boa qualidade, constrói uma garagem, e assim por diante”, compara. A maioria dos novos animais introduzidos nas propriedades era da raça Girolando, “ideal para as condições climáticas do Estado do Rio”, diz Moraes.

Embora a sua tese de mestrado tenha comprovado a satisfação dos produtores com o Rio Genética, o zootecnista defende que o poder público não só dê continuidade ao programa – que também envolve o acompanhamento de técnicos da Empresa Técnica de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro (Emater-RJ) –, como também avalie se de fato ele aumentou a produtividade leiteira das propriedades envolvidas e, consequentemente, a renda do produtor. “O novo governo, que tomou posse há apenas dois meses, ainda não sinalizou se vai manter ou não o programa. Espero que mantenha e que esse levantamento posterior seja feito. Dado o grau de satisfação do produtor com ele, creio ter havido, sim, um aumento de produtividade e renda.”[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_empty_space height=”50″][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][/vc_column][/vc_row]


Um salto genômico

Uma tecnologia inovadora desenvolvida no Brasil pela Embrapa, em parceria com a Associação doGirolando, a central de inseminação artificial CRV e a Zoetis, empresa do setor veterinário, vai permitir que o melhoramento genético da raça acelere e dê um salto nos próximos anos. Denominada ClarifideGirolando, foi lançada comercialmente em setembro do ano passado, e até o momento já teve 2 mil animais da raça submetidos à avaliação genômica para mapear seu potencial produtivo, informa o pesquisador da Embrapa Gado de Leite na Área de Genômica, Informática e Melhoramento Animal Marcos Vinicius Barbosa da Silva, que também é coordenador técnico do Programa de Melhoramento Genético do Girolando.

Barbosa da Silva, que participou da pesquisa, acredita que há um imenso potencial para a técnica. “Se imaginarmos que 80% da produção de leite do País vêm de vacas com sangue entre o Gir e o Holandês, temos mais de 20 milhões de animais que podem utilizar essa ferramenta”, diz.


 

(Matéria publicada na Revista Balde Branco, edição 651, de março de 2019)
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