Como pesquisador em economia, atuo em políticas públicas do setor lácteo desde 1983 e já vivenciei posições muito interessantes relacionando ministros do Mapa e o leite. Nestes 36 anos, 30 personalidades ocuparam aquele importante cargo. Com alguns, tive oportunidade de interagir, como Iris Rezende. Nos anos oitenta, construímos o que ficou conhecida como a Planilha de Custos de Produção da Embrapa, um estudo que visava estabelecer critérios para reajuste de preço pago ao produtor, que era tabelado. O ministro Iris transformou o estudo em lei, em 1987, e estancou a sangria que matava o setor, num período em que o Ministério da Economia usava o tabelamento para segurar a inflação, reajustando preços do leite ao produtor abaixo da inflação e transferindo renda do produtor para o consumidor, via preço.

No início dos anos noventa vi Antônio Cabrera criar um programa de estímulo à melhoria da produtividade leiteira, com base em tecnologia, ao mesmo tempo em que acabava com o tabelamento de preços e facilitava a importação de leite. Em tempos de câmbio valorizado e importação livre, o ministro Arlindo Porto percebeu que os preços de leite praticados no mercado internacional eram artificiais e acolheu a reivindicação dos produtores, criando salvaguardas à concorrência desleal com produtos vindos do Mercosul, Europa e Oceania. Essas medidas foram fundamentais para que a produção crescesse nos anos subsequentes e que o Brasil se tornasse exportador durante toda a gestão de Roberto Rodrigues, que prestigiou o setor e até nos congressos anuais da Embrapa Gado de Leite fazia questão de estar presente. Foi em sua gestão que surgiu a Instrução Normativa 51, um decisivo marco regulatório para a qualidade do leite. Também em seu período foi deflagrada a grande operação contra fraudadores do produto.

Já Reinhold Stephanes fez diferença, ao viabilizar recursos para que a Embrapa gerisse a aquisição de equipamentos para os dez laboratórios de qualidade de leite credenciados junto ao Mapa. E com Kátia Abreu fizemos o Sistema de Monitoramento da Qualidade do Leite – SimQL, sobre amostras de leite enviadas pelos produtores e que reúne resultados de todas as análises feitas nos laboratórios de qualidade do leite do Brasil nos últimos anos. Portanto, um instrumento importante para se fazer gestão da qualidade do leite.

Governo novo, no dia 17 de janeiro do mês passado, a nova ministra do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias, convidou, para uma reunião de trabalho, a Abraleite, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA, a Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB, a Associação G100, a Associação Viva Lácteos, o Sindilat-RS e nós, da Embrapa Gado de Leite. O assunto não podia ser outro, ou seja, políticas para o setor lácteo. Este ato da ministra Tereza Cristina é inusitado. Ainda nos primeiros dias de Governo, com a casa sendo arrumada ao seu estilo, convidou entidades para discutir o setor lácteo! Em 36 anos já vi e participei de reuniões com ministros para discutir o setor. Mas, nos poucos casos em que isso ocorreu, foi por demanda do setor. Pois, a ministra foi quem tomou a iniciativa e o leite teve o privilégio de ser o primeiro setor a se reunir com ela.

Outro fato inusitado foi que a ministra trouxe para a reunião todo o seu staff. Lá esteve o secretário executivo Marcos Montes, o secretário de política agrícola Eduardo Sampaio, o secretário de agricultura familiar e cooperativismo Fernando Schwanke, o secretário de comércio e relações internacionais Orlando Leite e o secretário de inovação Fernando Camargo, além de Luís Rangel, que está responsável por coordenar a realização de estudos e prospecção. Ao levar todo o seu time, a ministra demonstrou que está levando a sério o nosso setor. Um terceiro fato inusitado diz respeito à composição da equipe de trabalho da ministra e que merece ser destacado. Ao vê-los reunidos ali, me dei conta de que o time da ministra é eminentemente técnico e com experiência em gestão pública, um binômio necessário para que seja possível transformar demandas do setor em políticas públicas consequentes.

Por outro lado, as entidades presentes também tiveram um comportamento inusitado, pois não promoveram um desfile de reclamações. Ao contrário, houve unânime manifestação de confiança na ministra e foi entregue um documento de uma página, em que pilares para a construção de uma agenda positiva foram apresentados. A atitude da ministra foi imediata. Solicitou que o setor organizasse um conjunto de propostas mais detalhadas e o encaminhasse, pois deseja colocar no Plano Plurianual ações que se configurem em políticas focadas no setor.

Lembram-se das fotos, da campanha Got Milk, em que astros usam um bigode de leite, defendendo o produto nos EUA. Pois, dado o comprometimento que mostrou com o setor já nos primeiros dias de Governo, sem dúvida a ministra é a nova integrante do time que, como nós, usa o bigode do leite.

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