Com esta estratégia, o rebanho vem sendo aproveitado em todo seu potencial produtivo, no confinamento, e ao mesmo tempo, sua rusticidade na pastagem

Por João Antônio dos Santos

É com a integração do rebanho de animais Girolando mais apurados em sistema de confinamento e de pastagem que a produtora Anacley Pereira Bustamante Abreu está imprimindo avanços no negócio leite, que, na Fazenda da Pedra, em Cristina- MG, tem uma tradição de mais de 80 anos. À frente da gestão, ela conta que esta tradição teve início lá pelos idos de 1935, com sua bisavó, a primeira proprietária da fazenda. Já naquela ocasião era considerada muito à frente de sua época, pois viúva com sete filhos, por muitos anos, tocou sozinha a propriedade, pegando junto na lida com o leite, produzido por vacas da raça Gir Leiteiro, na década de 1940. Com o passar dos anos, sua avó continuou o negócio por cerca de trinta anos, deixando depois a administração da fazenda a seu pai, que desde menino a acompanhava, na produção de leite e café.

E assim, vem de longe esta tradição familiar que, com Anacley, chega à quarta geração, sucedendo seu pai, José Clênio Pereira, dedicado produtor, que foi presidente da Co¬operativa Agrícola de Cristina. Esta história é que lhe transmitiu o amor pelos animais, definindo sua escolha profissional: ser médica veterinária, formada em 1989. “Desde pequena, gostava muito de acompanhar meu pai na lida com o gado. No fundo, sonhava em tocar os negócios da fazenda ao lado dele. Só que como acontece, às vezes, ao nos formarmos nem sempre conseguimos implantar o que aprendemos. Continuei ajudando meu pai, mas fui trabalhar fora. Foi importante essa decisão, pois adquiri maturidade suficiente para desenvolver um bom relacionamento de trabalho com ele”, diz.

Somente em 2010, formaram uma sociedade e tocaram juntos a fazenda, nos últimos cinco anos de vida dele. Até então, seu pai focava mais na cultura do café, ficando o leite, de certa forma, em segundo plano, com produção média de 700-800 litros por dia, apesar de ter um rebanho Girolando mais apurado geneticamente (7/8), em sistema de pasto. Quando chegava a esse grau de sangue, começava a voltar, colocando mais sangue Gir Leiteiro. Era uma forma de manter a produção no mesmo patamar, em sistema de pasto, pois quanto mais apurados os animais, maior é a exigência nutricional.

Começou então, junto com seu pai, a fazer algumas mudanças, que elevaram a produção para 1.500 litros de lei¬te por dia, em 2013. “Isso nos motivou a pegar firme no leite, melhorando a nutrição, o manejo, visando aumentar a produção, a produtividade e a qualidade do leite”, relata Anacley. Nessa época, eles compraram alguns animais e chegaram a ter 70 a 80 vacas em lactação. “Já tínhamos um gado de bom padrão, mas não fazíamos dieta adequada para as vacas. O primeiro passo foi ajustar a nutrição correta para elas, com uma formulação à base de silagem de grão úmido, polpa cítrica, farelo de soja e núcleo mineral, numa mistura total, que praticamente fez dobrar a produção”, comenta.

Outra providência foi tirar o bezerro ao pé da vaca, se valendo do uso de ocitocina para estimular a descida do leite. Já era um movimento na direção de dar mais profissionalismo à atividade. Em seguida, reformaram a sala de ordenha, com a instalação de um sistema duplo seis, com fosso e doze ordenhadeiras. Com essas mudanças, aumentaram a produtividade, o volume de leite e conseguiram reduzir alguns custos. “O produtor para se manter na atividade precisa ter um custo adequado ao seu sistema de produção. Também é necessário ter uma escala de produção que lhe permita comprar os ingredientes da dieta em maior quantidade e a um preço melhor. Isto foi se comprovando como um grande diferencial à medida que avançávamos”, nota Anacley, enfatizando que nesses cinco anos, deram a grande virada da fazenda, saindo de 500 litros por dia para 2.000 litros, em quatro anos. “Quando meu pai faleceu, iniciei uma sociedade com minha irmã no gado, e com muita tristeza no coração, por sua ausência, demos continuidade a seu trabalho”.

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Leia a íntegra desta matéria na edição Balde Branco 641, de abril 2018

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