Após quatro meses em alta, a produção de leite registrou queda no Sul do País, resultando em estabilidade na captação média nacional. De setembro para outubro, o Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L/Cepea) teve ligeira alta, de 0,08%. Nesse período, houve diminuição de 6,6% na produção do Rio Grande do Sul; de 5,8%, em Santa Catarina, e de 3,1%, no Paraná. Já na Bahia, em outubro, a captação aumentou 6,3%; em Goiás, 4,4%; em São Paulo, 4,2%, e em Minas Gerais, 3,5%.

Segundo colaboradores do Cepea-Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada-Esalq/USP, a menor produção na região Sul está atrelada às chuvas na região, que encurtaram a janela para reforma das pastagens de verão em muitas bacias produtoras. Além disso, a disponibilidade de forragens está reduzida, e a receita do produtor, apertada, limitando a reforma de áreas de pastejo.

Mesmo com a menor captação no Sul, os preços recebidos pelo produtor (sem frete e impostos) caíram com força no Rio Grande do Sul (-10,36%), em Santa Catarina (-14,51%) e no Paraná (-10,05%). Nos demais estados, o movimento no preço também foi de queda, reforçado, nestes casos, pelo aumento na captação.

Na média Brasil, o preço recebido pelo produtor em novembro foi de R$ 1,2331/litro, forte baixa de 11,7% (ou de R$ 0,16/litro) em relação a outubro. Esta foi a terceira queda consecutiva, mas o valor médio nacional ainda acumula alta de 20,9% neste ano, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de outubro/16).

Já o preço bruto médio do leite (que inclui frete e impostos) caiu 10,9% de outubro para novembro, passando para R$ 1,3413/litro. As médias calculadas pelo Cepea são ponderadas pelo volume captado em outubro nos estados de GO, MG, PR, RS, SC, SP e BA.

Para dezembro, com o avanço da safra e a tendência de influência da La Niña nos estados do Sul, representantes de laticínios/cooperativas consultados pelo Cepea apontam nova queda nos preços do leite. A maioria dos agentes entrevistados (94%) indica que os valores devem cair novamente. Outros agentes (6%), principalmente os do Sul, acreditam em estabilidade. Nenhum dos colaboradores espera alta de preços.

No mercado de derivados, os valores também seguiram em queda, mas de forma menos intensa que a verificada em meses anteriores. Este cenário elevou a expectativa de agentes de estabilidade para os próximos meses. Os preços médios do leite UHT e do queijo mussarela negociados no atacado de São Paulo em novembro foram de R$ 2,15/litro e de R$ 15,81/kg, respectivamente, resultando em quedas de 3,15% e de 7,06% em relação às médias de outubro.

A continuidade das quedas dos preços da matéria-prima e o enfraquecimento no movimento de baixa nos valores dos derivados no atacado podem melhorar as margens das indústrias/laticínios. A pesquisa de derivados do Cepea é realizada diariamente com laticínios e atacadistas e tem o apoio financeiro da OCB-Organização das Cooperativas Brasileiras.

Nova ordem nos próximos meses
A Scot Consultoria, por sua vez, também confirmou a queda de preço do leite pago ao produtor. Segundo levantamento de sua equipe de analistas de mercado, a média nacional identificada em outubro e novembro confirmava a tendência agora apontada pelo Cepea.

“Com as quedas nos preços dos lácteos no atacado, persiste a pressão da indústria sobre a cotação do leite ao produtor”, diz o analista Rafael Ribeiro, observando que a produção em alta e as importações ainda em grandes volumes explicam este cenário de queda, que deverá perdurar durante a safra.

“Em curto prazo, são esperadas quedas nas cotações em todo o País, com exceção do Nordeste, onde a falta de matéria-prima continuará dando sustentação aos preços, porém, sem força para aumentos fortes”, cita outra analista da Scot, Juliana Pila. De acordo com ela, deverá aumentar o número de laticínios com expectativa de manutenção dos preços aos produtores a partir deste mês, mas ainda assim prevalece a pressão de baixa. O pico de produção está previsto para os meses de dezembro/16 e janeiro/17 na região Centro-Oeste e nas bacias leiteiras do Sudeste. Ou seja, até lá a previsão é de que o incremento da oferta continue pressionando o mercado.

Já no mercado spot, ou seja, o leite comercializado entre as indústrias, são evidentes os sinais de queda nas cotações. Em São Paulo, segundo levantamento da Scot Consultoria, o litro ficou cotado, em média, em R$ 1,15 em novembro, frente à média de R$1,18 por litro no fechamento de outubro deste ano. O menor valor encontrado foi R$ 0,95 por litro, posto na plataforma. O preço máximo foi de R$ 1,30 por litro.

Queda dos lácteos no atacado
A tendência de queda de preços se refletiu também no mercado atacadista. “A média de preços caiu 0,3% na primeira quinzena de novembro, em relação à segunda metade de outubro, considerando a média de todos os produtos e estados pesquisados”, destaca a analista Isabella Camargo, da Scot.

O queijo mussarela liderou a queda, com desvalorização de 4,2% no período. O produto está cotado, em média, em R$ 19,32 por kg em São Paulo, Minas Gerais e Goiás. O leite UHT apresentou queda quinzenal de 2,8%. O litro ficou cotado, em média, em R$ 2,39. São valores um pouco diferentes dos apresentados pelo Cepea, mas que confirmam a tendência de baixa. “As cotações do leite UHT estão em queda desde julho no atacado, quando o produto chegou a ser comercializado acima de R$ 4,00 por litro”, destaca Isabella.

Resumindo, ela diz que as fortes quedas de preços no atacado somadas à recuperação da produção de leite nos últimos meses são os principais fatores de baixa no mercado do leite. “No entanto, cabe destacar que não existe excesso de leite no mercado. Em outubro, a produção foi 2,8% menor que no mesmo período do ano passado”, cita, tendo como base o Índice Scot Consultoria de Captação de Leite.

Outra informação relevante, que pode mexer com o mercado, está no fato de que as importações de lácteos diminuíram em outubro, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O volume totalizou 19,25 mil t no mês de setembro. Na comparação com o mês anterior, a queda foi de 33,3%. Com relação ao faturamento, a redução foi de 30,4%, totalizando US$ 55,05 milhões no período.

O produto mais importado foi o leite em pó. No total foram 11,80 mil t que somaram US$ 32,89 milhões. Os maiores fornecedores para o Brasil, em valor, foram o Uruguai, com 44,2%; a Argentina, com 44,1%, e os Estados Unidos, com 5,7%. De janeiro a outubro de 2016, o País importou 79,1% mais lácteos em volume e 49,2% em valor, na comparação com igual período do ano passado. “Cabe lembrar que a recente proibição de se reidratar leite em pó importado deverá reduzir, em parte, a importação do produto”, observa Ribeiro.

A recente alta das cotações no leilão da Global Dairy Trade, referência para o mercado internacional, é outro fator que reforça a tese de que deve haver um freio nas importações brasileiras. No leilão do dia 1 de novembro, a cotação média dos lácteos subiu 11,4%, atingindo US$ 3.327 por t. Só o leite em pó integral subiu, sozinho, 19,8%, sendo cotado a US$ 3.317 por t. Já no leilão realizado 15 dias depois houve nova alta, mas menos acentuada, com o leite integral alcançando US$ 3.423 por t.

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