O preço do leite recebido por produtores registrou a segunda queda consecutiva em julho, recuando na média Brasil R$ 0,02 por litro

Conforme expectativas de agentes consultados pelo Cepea-Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Esalq/USP, o preço líquido (sem frete e impostos) do leite recebido pelos produtores na “média Brasil” (GO, MG, PR, RS, SC, SP e BA) apresentou um recuo de R$ 0,03/litro (ou -2,7%) frente a junho, a R$ 1,2343/litro.

Com a queda, a cotação do leite retomou o patamar de julho de 2014, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de junho/17). É a primeira vez neste ano que o preço fica abaixo do registrado em 2016 – frente a julho do ano passado, o recuo é de 12,8%. A diminuição dos preços do leite no campo esteve atrelada à demanda ainda enfraquecida por lácteos e ao aumento da captação.

A menor procura por lácteos na ponta final da cadeia continua sendo o principal desafio do setor neste ano. Uma vez que o consumo da maior parte dos derivados ocorre em função da elevação da renda, a diminuição do poder de compra do brasileiro impacta negativamente as negociações. Segundo agentes consultados pelo Cepea, laticínios, atacado e varejo continuam com dificuldades em manter o fluxo de vendas, o que tem estreitado suas margens e, como consequência, pressionado as cotações no campo.

Além disso, de acordo com cálculos do Cepea, o Índice de Captação de Leite (ICAP-L) aumentou 6,8% de maio para junho na “média Brasil”. Houve elevação na captação em todos os estados pesquisados, com exceção da Bahia (-2,96%). As variações foram significativas no Sul do País, onde, de modo geral, o clima propício às pastagens e às forrageiras de inverno favoreceu a produção.

Santa Catarina e Paraná apresentaram as altas mais expressivas, de 8,57% e 8,13%, respectivamente, e o Rio Grande do Sul, de 5,51%. As captações em Goiás, São Paulo e Minas Gerais aumentaram 5,78%, 4,94% e 2,97% respectivamente. O menor preço do leite e a maior competitividade dos laticínios influenciaram na alta da captação. Mesmo com o menor volume de chuvas no Sudeste, a produção não foi tão afetada por conta dos baixos valores do concentrado.

Para agosto, a maioria dos agentes consultados pelo Cepea continua esperando queda nos preços. Quase 83% deles (que também respondem por 83% do volume amostrado) apostam em novo recuo no próximo mês, mas 10,8% (4,2% do volume amostrado) esperam estabilidade. A porcentagem de colaboradores do Cepea que acredita em alta nas cotações é de 6,3% (com participação de 12,9% do volume).

Tabela 1

Preços pagos pelos laticínios (brutos) e recebidos pelos produtores (líquido) em JULHO/17 referentes ao leite entregue em JUNHO/17

tab1Fonte: Cepea-Esalq/USP

Custos também mantém queda – Os custos de produção da pecuária leiteira caíram pelo sexto mês consecutivo. Segundo o Índice Scot Consultoria, em julho, o recuo foi de 3,8% em relação a junho deste ano. “O maior impacto para o produtor veio principalmente dos alimentos concentrados, notadamente os energéticos, pressionados pela queda da cotação do milho”, informa Juliana Pila, da Scot. Na comparação com julho do ano passado, os custos de produção da atividade caíram 14,8% (figura 1). Desde o início da queda, em fevereiro deste ano, a redução no índice acumula queda de 12,1%.

O Cepea confirma a tendência, aplicando um índice de redução de custos um pouco menor, 3%. De acordo com o pesquisador da entidade, Wagner Yanaguizawa, os citados preços mais baixos do milho e também do farelo de soja contribuíram para a queda. “Muitos produtores estão sabendo aproveitar esse momento de custos menores e os bons patamares de preços do leite. “A expectativa é que eles consigam aumentar as margens de produção”, afirmou.

Queda também está ocorrendo nos preços do leite no mercado spot e do leite longa vida no atacado. No mercado spot, ou seja, o leite comercializado entre as indústrias, o preço do leite caiu na primeira quinzena de julho. Segundo levantamento da Scot Consultoria, em São Paulo, o litro ficou cotado, em média, em R$ 1,305, posto na plataforma. Desde abril deste ano os preços caíram 17,8% no estado. Em Minas Gerais e em Goiás, os negócios ocorrem, em média, em R$ 1,301/litro e R$1,285/litro, respectivamente.

“A produção aumentando e a demanda fraca na ponta final da cadeia pressionam as cotações do leite no mercado spot”, cita Rafael Ribeiro, analista de mercado as Scot. Em maio/17, a captação de leite (média nacional) aumentou 1,4% em relação a abril deste ano, segundo o Índice Scot Consultoria de Captação de Leite. Os dados de junho/17 apontam para incremento de 1,8% na captação no país, na comparação mensal.

No mercado atacadista foi registrada mais uma queda nos preços do leite longa vida na primeira quinzena de julho. O litro ficou cotado, em média, em R$ 2,40 em São Paulo, um recuo de 3,6% em relação a segunda quinzena de junho. A expectativa em curto e médio prazos é de que pressão de baixa continue no mercado do leite.

Figura 1
Variação mensal do Índice Scot Consultoria de Custo de Produção da Pecuária Leiteira

 

fig1Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br

Preços acima da média mundial – A conjuntura econômica do agronegócio do leite teve o seu mais importante evento mundial no último mês de junho, quando foi realizada a 18º Conferência Anual da IFCN (sigla em inglês para Rede Internacional para a Comparação de Sistemas de Produção de Leite). Tendo a Embrapa como representante do Brasil, o encontro reuniu 98 representantes de 43 países (veja reportagem nesta edição). O destaque deste ano foi a última grande crise do setor lácteo, entre 2015 e 2016. Considera-se que o ciclo desta crise chegou agora ao seu final.

O preço mundial para o leite recuperou seu patamar ou referência histórica dos últimos dez anos, de US$ 0,38/kg de leite em junho de 2017. Como comparação, em maio de 2016, o preço representava apenas 58% deste valor. Estimativas do IFCN indicam que a produção mundial de leite cresceu 2,3% ao ano no período 2007 – 2016, aumento anual de 17 milhões de t. Em decorrência da citada crise, que foi a mais longa do setor lácteo desde 2007, a produção mundial cresceu apenas 1,1% em 2016, em relação a 2015.

Por outro lado, o número de produtores de leite, que apresentou crescimento constante nas últimas décadas, no biênio 2015/2016, reduziu-se pela primeira vez e foi estimado em 119,3 milhões, sendo que dois de cada três produtores de leite estão na Ásia. No Brasil, a produção total cresceu 3,6% ao ano entre 2006 e 2015. Já para 2016, estima-se retração entre 3% e 4%. No período, os custos de produção se mantiveram entre US$ 0,30 e 0,40 por kg de leite, dentro da média mundial. No entanto, os produtores nacionais receberam preços melhores do que a média do mundo.

Considerando o período 2007-2016, o preço médio ao produtor foi de US$ 0,43/kg, equivalente a R$ 1,19/litro. Este patamar é 12% superior ao preço de referência mundial estimado pelo IFCN, de US$ 0,38/kg ou R$ 1,07/litro. Diferentemente dos anos anteriores, a demanda brasileira por produtos lácteos ainda não apresentou crescimento significativo em 2017. A expectativa para que isso aconteça depende de queda nas taxas de juros e desaquecimento da inflação a partir deste semestre.

Para a oferta nacional de leite, a sinalização de preços no final deste primeiro semestre indica duas condições mais promissoras para recuperação da produção em 2017. Primeira, o preço ao produtor está no valor da média de 2016 e 12% acima de seu preço real histórico dos últimos dez anos. Segunda, em junho de 2017, o custo do concentrado foi R$ 0,63/kg, cerca de 40% menor do que no mesmo período em 2016. A expectativa é fechar o ano com média de R$ 0,70/kg, equivalente a 12% abaixo da média histórica. Neste panorama, a oferta de leite no Brasil nesse ano pode ter uma recuperação entre 2% e 4%, em relação a 2016.

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